Um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) destacou a influência dos hormônios sexuais femininos na sensibilidade à dor. Conduzida no Programa de Pós-Graduação em Biologia de Sistemas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a pesquisa investiga como o ciclo estral — conjunto de alterações fisiológicas que ocorrem em fêmeas mamíferas e que são causadas por hormônios reprodutivos — afeta a percepção de dor em ratas Wistar, revelando variações significativas ao longo das fases hormonais.
O trabalho foi liderado por Natasha Farias Marques sob orientação da professora Marucia Chacur e mostrou que a sensibilidade à dor aumenta durante o diestro, fase do ciclo caracterizada por baixos níveis hormonais.
“A reposição de progesterona em ratas com os ovários removidos demonstrou um efeito protetor contra a dor, enquanto o estradiol não apresentou impacto significativo até o momento”, explica Marques, em comunicado.
O estudo, além de mostrar os impactos dos hormônios sexuais femininos na saúde geral, sublinha a necessidade de incluir mais fêmeas em estudos científicos.
“Grande parte dos estudos utiliza apenas machos, porque seus resultados não são influenciados por variações hormonais. No entanto, isso limita o entendimento das diferenças biológicas e impede avanços em tratamentos personalizados”, alerta Chacur.
Como o trabalho foi feito?
Para chegar às conclusões, o estudo utilizou métodos éticos e rigorosos para avaliar a sensibilidade à dor em diferentes fases do ciclo estral. Entre eles, testes de pressão na pata, estímulos táteis e coleta de lavado vaginal para monitorar as fases do ciclo — um procedimento não invasivo semelhante ao exame papanicolau.
Além disso, parte das ratas usadas no estudo foi submetida à ovariectomia, simulando uma condição de menopausa, o que permitiu analisar o impacto da reposição hormonal.
“Os dados mostram que a progesterona reduz a sensibilidade à dor, sugerindo seu potencial como base para terapias futuras. Trabalhos como este são cruciais para o avanço da ciência e para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e individualizados”, afirma Chacur.
O estudo foi reconhecido com uma menção honrosa no Congresso da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC). Em abril de 2025, os resultados serão apresentados no 14º Congresso da Federação Europeia da Dor (EFIC), em Lyon, França, ampliando o diálogo sobre a importância de estudos que contemplem as diferenças biológicas entre os sexos.
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