O processo eleitoral americano em 2024 já começa sob uma nuvem de desconfiança generalizada, de acordo com Clifford Young, presidente do instituto de pesquisas de opinião Ipsos, nos Estados Unidos.
Em entrevista ao WW nesta segunda-feira (04), véspera da eleição presidencial, Young alertou para um cenário preocupante que se desenha no horizonte político do país.
Segundo o especialista em eleições americanas, a maioria do eleitorado acredita que o sistema está ‘quebrado’.
“Uma desconfiança total e profunda do sistema, que o estabelecimento não mais consegue cumprir o que promete, essa é uma questão generalizada”, afirmou.
Desconfiança bilateral e polarização
A desconfiança não se limita a um único lado do espectro político. Tanto democratas quanto republicanos expressam ceticismo em relação à integridade do processo eleitoral.
“Nenhum dos democratas, nenhum dos republicanos acredita que é justo, é ‘fair’ [algo como honesto], como a gente fala em inglês. Eles têm desconfiança do outro lado”, explicou Young.
Essa polarização extrema leva a uma percepção ainda mais alarmante. Segundo o especialista, tal visão contribui para um ambiente político cada vez mais hostil, onde o oponente é visto como inimigo, não como adversário legítimo.
“Os dois lados acham que se o outro lado ganhar vai ter uma crise existencial”, destacou.
Impacto na governança e na sociedade
Young prevê dificuldades significativas no período pós-eleitoral, independentemente do resultado. “Vai ser difícil conseguir consenso depois, legitimidade geral”, alertou.
Clifford Young não antecipa violência generalizada, mas teme um processo gradual de erosão social: “É um processo lento da desconstrução da sociedade americana, por causa da desconfiança entre pessoas, é uma desconfiança no sustento”.
A situação é agravada por atores políticos que, segundo Young, exploram e alimentam essa desconfiança para fins políticos, citando especificamente o ex-presidente Donald Trump como exemplo.
Para Young, os Estados Unidos emergirão deste ciclo eleitoral mais fracos e divididos, enfrentando desafios significativos para reconstruir a confiança nas instituições democráticas e na capacidade de governança efetiva do país.
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