O chefe de espionagem estrangeira do Reino Unido acusou a Rússia, nesta sexta-feira (29), de empreender uma “campanha incrivelmente imprudente” de sabotagem na Europa, ao mesmo tempo em que intensifica sua ameaça nuclear para assustar outros países e impedir que apoiem a Ucrânia.
Richard Moore, chefe do Serviço Secreto de Inteligência do Reino Unido, conhecido como MI6, disse que qualquer abrandamento no apoio à Ucrânia contra a invasão russa em 2022 encorajará o presidente, Vladimir Putin, e seus aliados.
No que pareceu ser uma mensagem para o governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e para alguns aliados europeus que questionaram o apoio contínuo à Ucrânia, Moore argumentou que a Europa e seus parceiros transatlânticos devem se manter firmes diante do que ele disse ser uma agressão crescente.
“Recentemente, descobrimos uma campanha incrivelmente imprudente de sabotagem russa na Europa, mesmo com Putin e seus acólitos recorrendo a uma estratégia de ameaça nuclear para semear o medo sobre as consequências de ajudar a Ucrânia”, disse, em um discurso em Paris.
“O custo de apoiar a Ucrânia é bem conhecido, mas o custo de não fazê-lo seria infinitamente maior. Se Putin for bem-sucedido, a China avaliará as implicações, a Coreia do Norte será encorajada e o Irã se tornará ainda mais perigoso”, acrescentou.
Em setembro, Moore afirmou que os serviços de inteligência da Rússia haviam se tornado “um pouco selvagens”, no último alerta da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de outros chefes de espionagem ocidentais sobre o que eles chamam de ações hostis da Rússia, desde repetidos ataques cibernéticos a incêndios ligados a Moscou.
Moscou negou a responsabilidade por todos esses incidentes. A embaixada russa em Londres não respondeu a um pedido da Reuters para comentar as falas de Moore em um primeiro momento.
No mês passado, o chefe de espionagem doméstica do Reino Unido disse que o serviço de inteligência militar GRU da Rússia estava tentando causar “caos”.
Fontes familiarizadas com a inteligência dos EUA disseram à Reuters que Moscou provavelmente intensificará sua campanha contra alvos europeus para aumentar a pressão sobre o Ocidente em relação ao seu apoio a Kiev.
O retorno de Trump
Grande parte do discurso de Moore se concentrou na importância da solidariedade ocidental, dizendo que a força coletiva dos aliados do Reino Unido superaria Putin que, segundo ele, está se tornando cada vez mais dependente da China, da Coreia do Norte e do Irã.
Trump, que prometeu acabar rapidamente com a guerra na Ucrânia, sem dizer como, e outros republicanos nos EUA expressaram reservas sobre o forte apoio estratégico de Washington e o fornecimento de armas pesadas para Kiev.
“Se Putin conseguir reduzir a Ucrânia a um Estado vassalo, ele não vai parar por aí. Nossa segurança – britânica, francesa, europeia e transatlântica – será colocada em risco”, disse Moore.
Em termos gerais, Moore afirmou que o mundo está em seu estado mais perigoso em seus 37 anos de trabalho no mundo da inteligência, com o Estado Islâmico em ascensão novamente, as ambições nucleares do Irã sendo uma ameaça contínua e o impacto radicalizante dos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 ainda não totalmente conhecido.