Carrefour pode ficar sem carne? Entenda a polêmica do boicote dos frigoríficos brasileiros | CNN Brasil

Carrefour pode ficar sem carne? Entenda a polêmica do boicote dos frigoríficos brasileiros | CNN Brasil

A última quarta-feira (20) foi marcada pela declaração do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, questionando a qualidade da carne latino-americana e afirmando que lojas da rede varejista francesa não iriam mais comercializar a commodity agropecuária.

Em retaliação, associações e frigoríficos brasileiros rechaçaram as falas de Bompard, com direito a retaliação ao fornecimento de carne à empresa e pronunciamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Especialistas ouvidos pela CNN, porém, pontuam que o tempo de permanência desses produtos no supermercado é curto, e em breve poderá será possível ver reflexo da decisão dos frigoríficos nas prateleiras.

O Carrefour Brasil afirmou nesta segunda-feira (25) que uma suspensão de fornecimento de carne à sua rede no país impacta seus clientes, após a polêmica.

“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, afirmou o Carrefour Brasil em comunicado.

A empresa citou que está em busca de “soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.

O Carrefour Brasil ressaltou ainda que “não há falta de carne nas lojas até este momento”.

Entenda retaliação dos frigoríficos e decisão do Carrefour

A JBS, um dos principais frigoríficos brasileiros, interrompeu o fornecimento de carne ao Carrefour, na última quinta-feira (21), em resposta à decisão do CEO francês no dia anterior.

A Friboi, marca da JBS, responde por cerca de 80% das carnes vendidas no Carrefour.

Na última sexta (20), a Masterboi também realizou a suspensão de 250 toneladas de carne ao Carrefour.

Mesmo que o mercado de bandeira fancesa diga que ainda não há impactos, a CEO da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, afirma que a ruptura em breve ficará óbvia.

“A reposição da carne in natura, a mais comercializada, é feita diariamente, muito provavelmente unidades do Carrefour serão impactadas pela falta de carne”, explica.

Tozzi ressalta que ao longo dos dias a falta de proteínas ganhará cada vez mais força, ainda que o Carrefour busque distribuidoras para comprar lotes emergenciais.

Apesar de o Carrefour Brasil ter tentado se distanciar das declarações, o francês é controlador da companhia, com mais de 60% de participação.

“[A declaração] se aplica apenas às lojas na França. […] Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, afirma a empresa em nota.”

O CEO do Carrefour na França, na quarta-feira (20), afirmou em publicação no X que a varejista deixaria de disponibilizar a commodity pecuária vinda da região para atender a “consternação e indignação” dos agricultores do país em relação ao tratado.

A declaração foi uma resposta de solidariedade ao agronegócio da França, que tem se posicionado contra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Agricultores franceses protestam desde a semana passada, devido ao descontentamento com o acordo e participação da concorrência estrangeira na crise agrícola no início deste ano.

A principal crítica é que produtores do Mercosul não seguem as mesmas regras — principalmente ambientais — e teriam vantagens competitivas injustas.

Para os especialistas ouvidos pela CNN, a afirmação reflete uma posição protecionista em ascensão na França devido ao debate do acordo de livre comércio entre o Mercosul a UE, além da lei antidesmatamento do bloco.

Em sua publicação, Bompard ressaltou que espera que a declaração possa inspirar outras empresas.

“Esperamos inspirar outros atores do setor agro-alimentar e dar impulso a um movimento de solidariedade mais larga. É através do bloqueio que podemos tranquilizar os criadores franceses de que não haverá evasão possível. No Carrefour, estamos prontos para isso, independentemente dos preços e quantidades de carne que o Mercosul nos proponha”, enfatizou.

O Carrefour Brasil afirmou nesta segunda-feira (25) que uma suspensão de fornecimento de carne à sua rede no país impacta seus clientes, após a polêmica.

“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, afirmou o Carrefour Brasil em comunicado.

A empresa citou que está em busca de “soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.

O Carrefour Brasil ressaltou ainda que “não há falta de carne nas lojas até este momento”.

Entenda os posicionamentos do Ministério da Agricultura e de associações do setor

Entidades brasileiras vêm se posicionando contra as declarações de Bompard desde então. Autoridades, como o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, defenderam publicamente um boicote à bandeira.

Fávaro teria, inclusive, pedido aos frigoríficos que tomassem uma atitude.

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), rechaça a afirmação do francês, dizendo que a declaração coloca a reputação do Brasil em jogo.

“Essa afirmação é uma falácia. O histórico comercial com a União Europeia prova que as exigências de qualidades do bloco sempre foram atendidas. O que não pode ser ignorado é que um CEO de uma grande empresa realizar essa afirmação sabendo o impacto que pode ter junto a população e outros países sobre a qualidade da carne brasileira”, diz.

Nesta segunda-feira (25), 44 associações ligadas ao setor publicaram carta aberta  em resposta ao CEO do carrefour sobre carnes produzidas no Mercosul.

“Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes
do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional”, diz o documento.

Entenda o impacto da declaração do Carrefour nas exportações brasileira

Para os especialistas, a afirmação reflete uma posição protecionista em ascensão na França devido ao debate do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além da lei antidesmatamento do bloco.

No entanto, no ano passado, passaram pelos portos brasileiros US$ 22 bilhões em carne bovina, suína e de aves, de acordo com Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento. Desse total, só US$ 678 mil, apenas 0,04% do total é exportado para a França.

Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro, afirma que a exportação para a França teria impacto próximo de zero na balança comercial brasileira.

“O mercado de exportação brasileiro está super aquecido no momento, devido a alta demanda mundial de produtos bovinos, suínos e aviários que só nós conseguimos atender”, explica.

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*Com informações de Gisele Farias, da CNN e da Reuters

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