O presidente eleito Donald Trump afirmou, em entrevista exibida neste domingo (8), que não tem planos de remover o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell.
Durante sua participação no programa “Meet the Press with Kristen Welker”, da NBC, Trump foi questionado se tentaria substituir Powell.
“Não, eu não acho. Não vejo essa necessidade”, disse Trump. “Acho que, se eu dissesse para ele sair, ele o faria. Mas, se eu pedisse, provavelmente não. No entanto, se eu mandasse, ele sairia.”
Welker perguntou então se Trump tinha intenção de solicitar a renúncia de Powell. Trump respondeu: “Não, eu não tenho.”
As declarações marcam a primeira vez desde a eleição presidencial que Trump apoia Powell publicamente.
Em julho, Trump havia dito que não demitiria Powell caso vencesse a eleição. Em novembro, um assessor sênior de Trump reafirmou que ele provavelmente permitiria que Powell concluísse seu mandato como presidente do Fed.
Contudo, Trump já ameaçou destituir Powell em várias ocasiões, especialmente após o banco central elevar as taxas de juros em 2018, chegando a chamá-lo de “inimigo” em 2019.
Em março de 2020, Trump afirmou a jornalistas que tinha o “direito de remover Powell do cargo” e que ele havia tomado “muitas decisões ruins” na visão do presidente, especialmente durante o colapso dos mercados no início da pandemia. A
pesar disso, Trump elogiou Powell por reduzir as taxas a zero, medida que evitou um colapso econômico.
Trump nomeou Powell para liderar o banco central dos EUA em novembro de 2017. Posteriormente, Powell foi reconduzido ao cargo pelo presidente Joe Biden para mais um mandato.
‘Não permitido por lei’
Menos de 48 horas após a eleição de Trump, um repórter perguntou a Powell se ele renunciaria caso Trump solicitasse. Powell respondeu que não.
“Não é permitido por lei”, repetiu Powell duas vezes.
Existem barreiras legais que impedem Trump, ou qualquer outro presidente, de demitir o presidente do Fed. Para tal, é necessário comprovar o que o banco central dos EUA define como “causa justificada”.
A decisão final sobre o que constitui uma “causa justificada” para demitir o presidente do Fed poderia ficar a cargo da Suprema Corte, mas, enquanto essa disputa judicial se desenrolasse, Powell provavelmente permaneceria no cargo até o fim de seu mandato.
Trump quer influência sobre as taxas de juros
Trump já acusou Powell de ser “político” e afirmou, em entrevista à Fox Business em fevereiro, que o Fed considerava cortes de juros “com o objetivo de talvez eleger certas pessoas”.
Ele também disse que suas ameaças de remover Powell estavam relacionadas a taxas de juros que considerava altas demais, mas que Powell exagerou ao reduzi-las “demais”.
Trump sugeriu ainda outra estratégia, caso não consiga demitir Powell: obter influência direta sobre as decisões do banco central.
“Acredito que o presidente deveria, pelo menos, ter uma palavra nas decisões do Fed. Sinto isso com muita convicção”, disse Trump em uma coletiva de imprensa em agosto, referindo-se às decisões de juros. “Eu fiz muito dinheiro. Fui muito bem-sucedido. Acho que tenho uma intuição melhor do que, em muitos casos, as pessoas que estão no Fed — ou o próprio presidente do Fed.”
O Federal Reserve é projetado para ser um órgão independente, livre de influências políticas, de modo a evitar decisões que possam desestabilizar a geração de empregos e a manutenção de uma inflação baixa.
Ainda não está claro se Trump precisaria de aprovação do Congresso para reduzir a independência do Fed. De qualquer forma, Powell se posiciona contra essa ideia, afirmando que bancos centrais independentes geralmente apresentam taxas de inflação mais baixas.
“É um bom arranjo institucional, que tem sido benéfico para o público, e espero, com convicção, que continue assim”, disse Powell a repórteres em setembro.