Autoridades curdas em áreas do norte da Síria declararam mobilização à medida que os rebeldes avançam pelas regiões rurais ao norte de Aleppo.
A chamada Administração Autônoma (AA) afirmou que a Turquia “juntamente com os seus mercenários” foi responsável pela realização de ataques, “particularmente em Afrin, Shahba e Aleppo”.
Afrin e Shahba são áreas controladas pela AA curda próximas da fronteira com a Turquia. Os grupos apoiados pelos turcos no norte da Síria estão em conflito com os grupos curdos, especialmente o PKK, que é considerado uma organização terrorista por Ancara.
A Administração Autônoma afirmou que “essa agressão visa ocupar e dividir a Síria, transformando-a num centro de terrorismo internacional. Os ataques, que começaram em Aleppo e Hama, não se limitam a uma área específica, mas representam uma ameaça para toda a Síria”.
“Nós, como árabes, curdos, siríacos, assírios e turcomanos, devemos nos unir e reforçar a nossa solidariedade para enfrentar esta agressão flagrante”, destacou.
“Apelamos também aos nossos jovens, tanto homens como mulheres, para se juntarem às Forças Democráticas Sírias (SDF) [uma aliança dominada pelos curdos e apoiada pelos Estados Unidos]”, adicionou.
“Declaramos por este meio um estado de mobilização geral e instamos o nosso povo a permanecer em constante estado de prontidão”, disse a Administração.
As Forças Democráticas Sírias emitiram uma declaração semelhante, ressaltando que o ataque a Aleppo “está sendo orquestrado pelo Estado ocupante turco” e que “há uma ampla ofensiva nas áreas da Administração Autônoma”.
“O objetivo destes ataques é ocupar as nossas áreas seguras e tomar geralmente terras sírias. Durante vários dias, os nossos combatentes demonstraram uma resistência extraordinária na frente de Manbij e na frente do Eufrates Ocidental”, afirmaram as SDF.
Manbij fica a cerca de 100 quilômetros a nordeste de Aleppo.
Não está claro se as forças da oposição que tomaram Aleppo fizeram avanços significativos nas áreas curdas a norte e a leste da cidade.
No entanto, o Exército Sírio Livre, um dos grupos da coligação rebelde, pontuou que os seus combatentes entraram neste domingo (1°) na cidade de Tal Rifaat, dominada pelos curdos, cerca de 35 quilômetros a norte de Aleppo.
Entenda o conflito na Síria
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.